Trump e Lula têm mais em comum do que seus eleitores gostariam de admitir. Ambos se vendem como salvadores da pátria, grandes líderes que lutarão contra “as elites”, “os burocratas” ou “os banqueiros”. Ambos se dizem vítimas de forças ocultas — ora o Banco Central, ora a imprensa, ora a China. Ambos, no fundo, reproduzem o pior da tradição política latino-americana: o culto ao “homem forte” e a recusa em aceitar a responsabilidade por suas próprias decisões econômicas.
O problema é que, ao assumirem esse papel de “libertadores da nação”, produzem os mesmos danos que seus antecessores caudilhescos: inflação, desconfiança, fuga de capitais e empobrecimento generalizado.
Não é exagero colocar Donald Trump no mesmo pedestal instável de figuras como Perón, Getúlio ou Hugo Chávez. Ele representa um retrocesso econômico tão perigoso quanto o de Lula — e com os mesmos sintomas: nacionalismo retórico, desprezo pela liberdade de mercado, e um fetiche autoritário por regular aquilo que não compreendem.
Culpar o Banco Central: velha desculpa, novo teatro
Na América Latina, é praxe culpar o Banco Central por tudo. Lula, fiel à cartilha populista, voltou a atacar Roberto Campos Neto, insinuando que as “arapucas” do BC e as “loucuras de Trump” estariam por trás da alta dos alimentos:
“Não é possível que o Brasil, sendo um dos maiores produtores de alimentos do mundo, tenha aumento de preços como estamos tendo. E aí você vai ver: é uma arapuca que o Banco Central preparou. É a loucura de Trump, que está colocando taxa para tudo quanto é lugar.”
Fonte: Veja, 2024
Sim, você leu certo: Lula culpa Trump pela inflação no Brasil. Essa transferência de culpa é uma marca registrada do populismo — e Trump está seguindo exatamente o mesmo roteiro.
Trump, o novo caudilho do Norte
Trump, agora em campanha e buscando reeleição, já prepara o terreno para culpar o Fed (Banco Central americano) por quaisquer maus resultados econômicos. Segundo o Wall Street Journal:
“Trump está pronto para fazer do presidente do Fed, Jerome Powell, seu bode expiatório caso a economia desacelere. É a repetição do seu comportamento durante seu primeiro mandato.”
Fonte: WSJ, 2024
A ironia é brutal: o mesmo Trump que forçou cortes de juros insustentáveis agora quer culpar o banco central pelos efeitos disso. Um reflexo perfeito do caudilhismo econômico que assola países como Venezuela e Argentina — agora importado com sotaque nova-iorquino.
A mesma receita, os mesmos resultados
Populistas autoritários compartilham uma regra de ouro: nunca admita seus erros. A inflação? Culpa do banqueiro. O desemprego? Culpa da imprensa. A recessão? Culpa da oposição.
Essa farsa política não é nova. No século XIX, Simón Bolívar já alertava:
“A liberdade do Novo Mundo é uma quimera.”
No século XX, Juan Bautista Alberdi — o grande pensador liberal argentino — escreveu:
“Governar é povoar, sim. Mas governar é, antes, respeitar a propriedade, o comércio e a liberdade.”
Os populistas do século XXI não aprenderam nada disso. Preferem inflar seus egos e seus gastos públicos — e depois culpar os outros quando a conta chega.
O fetiche pela regulação
Trump não apenas imprime dinheiro e ataca o Fed. Ele também demonstra um prazer particular por regular a economia — desde que a regulação favoreça seus amigos e penalize seus inimigos políticos. No artigo publicado em Poder & Mercado, já apontamos:
“O Estado tem um fetiche por regular o que não entende. Quando não consegue controlar pela força, tenta controlar pela burocracia.”
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Trump, Lula, Fernández ou López Obrador: todos fazem parte de uma linhagem de políticos que acreditam que podem moldar a economia com discursos e decretos. Mas o mercado, como dizia Hayek, é um processo espontâneo de coordenação — não um joguinho de palácio.
Conclusão: o verdadeiro inimigo da liberdade
O problema não são os banqueiros, nem os exportadores, nem a China, nem os algoritmos. O problema são os políticos que se julgam maiores que a realidade econômica. Que negam as leis da escassez, da oferta e da demanda. Que acreditam que podem imprimir riqueza, distribuir crescimento e controlar preços com canetadas.
Trump e Lula são mais parecidos do que seus eleitores gostariam de admitir. Ambos encarnam a síndrome do salvador econômico, mas, como mostra a história da América Latina, quanto maior o salvador, maior o estrago.
Se você quer entender por que esses discursos sempre acabam em empobrecimento, inflação e perda de liberdade, siga acompanhando o Poder & Mercado.
Porque aqui, a gente não romantiza caudilhos. A gente desmascara.