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Subsídios bilionários, inflação popular: a conta (in)visível da “ajuda estatal”

Homem sustenta balança desequilibrada com carros empilhados de um lado e dinheiro em chamas ao fundo, representando o peso dos subsídios estatais sobre o cidadão.

Enquanto o governo injeta bilhões em programas de incentivo e isenções fiscais para setores “estratégicos”, como a indústria automobilística, o cidadão comum paga a conta: inflação persistente, aumento da dívida pública e desvalorização da moeda. A história se repete com roupagem nova, mas o enredo é o mesmo — o mercado é distorcido e o Estado sai como herói de um desastre que ele mesmo provocou.

O retorno do intervencionismo: pacotes para uns, impostos para todos

Em junho de 2023, o governo federal relançou um programa de incentivos à indústria automobilística com um valor de até R$ 1,5 bilhão em subsídios para a venda de carros populares. O argumento era previsível: estimular o consumo, preservar empregos e aquecer a economia. Mas o que parece um gesto nobre esconde, na prática, uma política velha e ineficiente: a transferência indireta de renda do contribuinte para setores privilegiados.

Segundo a Folha de S.Paulo, o benefício envolveu descontos tributários direcionados a montadoras que reduzissem o preço final dos veículos, criando um estímulo artificial à demanda.

O problema é estrutural. Esses pacotes não saem do “governo” — saem da sociedade. O recurso gasto para subsidiar um carro “popular” é o mesmo que falta para conter a inflação, reduzir a dívida ou aliviar a carga tributária.

A inflação como imposto invisível

A crença de que o Estado pode “ajudar a economia” distribuindo favores ignora o impacto macroeconômico desse tipo de intervenção. Em um ambiente de endividamento crescente, novos subsídios pressionam o Tesouro Nacional, que responde com mais emissão de dívida ou, em última instância, com aumento da base monetária. O resultado é previsível: perda do valor da moeda, aceleração da inflação e corrosão do poder de compra.

A inflação funciona como um imposto regressivo e invisível. Ela afeta desproporcionalmente os mais pobres, que vivem com renda fixa e não têm acesso a instrumentos de proteção patrimonial. Enquanto o setor automobilístico comemora os incentivos, famílias veem o preço dos alimentos, do gás de cozinha e do transporte público subir continuamente.

Este é o paradoxo perverso: políticas públicas vendidas como “ajuda social” acabam empobrecendo exatamente aqueles que dizem proteger.

A dívida explode — e ninguém parece se importar

De acordo com dados do Valor Investe, a dívida bruta do governo brasileiro atingiu 75% do PIB em 2024 — o maior patamar desde o início da série histórica.

Apesar dos alertas de economistas e da reação negativa do mercado, a retórica oficial continua apostando na expansão fiscal como motor de crescimento. Essa ilusão keynesiana ignora que o ambiente atual é completamente diferente dos anos 2000: juros altos, baixo crescimento, população endividada e credibilidade fiscal abalada.

Financiar subsídios com aumento da dívida é um ciclo autodestrutivo. A dívida exige mais juros, o governo precisa captar mais recursos, o risco país aumenta, o investimento privado recua — e voltamos ao ponto de partida: estagnação com inflação.

O velho desenvolvimentismo com roupa nova

A crença no Estado como indutor do crescimento é uma das heranças mais duradouras do pensamento econômico estatista no Brasil. Desde Vargas até Lula, passando por JK, Geisel e Dilma, governos de todos os espectros recorreram ao mesmo receituário: crédito subsidiado, campeões nacionais, protecionismo setorial, incentivos fiscais. Todos fracassaram.

Mas o discurso permanece popular. Fala-se em “retomada industrial”, “soberania tecnológica”, “inclusão produtiva” — sempre com o Estado como protagonista e o cidadão como figurante.

O problema é que, ao escolher setores para privilegiar, o governo automaticamente escolhe outros para punir. O empresário que não recebe subsídio é punido com concorrência desleal. O consumidor que não compra carro é penalizado com inflação. O contribuinte que não lucra com favores políticos financia a farra.

O que dizem os defensores dos subsídios?

É comum ouvir que subsídios são temporários, necessários e que “todos os países fazem”. Mas esse argumento é simplista.

Primeiro, os subsídios raramente acabam. O que deveria durar seis meses, vira dois anos, depois é renovado com outro nome. O incentivo à indústria automotiva, por exemplo, existe no Brasil desde os anos 1950 — e até hoje é um dos setores mais subsidiados do país.

Segundo, os países desenvolvidos que adotam subsídios o fazem em contextos completamente diferentes: com moeda forte, superávit fiscal e controle inflacionário. Copiar o modelo sem as bases institucionais é como usar a receita de um atleta olímpico para treinar um sedentário.

Terceiro, mesmo nos países ricos, os subsídios são alvo constante de críticas. Nos EUA, por exemplo, o governo Biden tem enfrentado pressão por seus incentivos à indústria verde, acusados de inflacionar custos e distorcer a concorrência.

Subsídios não são neutros: criam uma elite à sombra do Estado

Quando um governo distribui subsídios, ele está definindo quem ganha e quem perde — não com base no mérito ou na eficiência, mas com base em critérios políticos. Isso cria um ecossistema de “empresários de escritório”, que vivem de relações com Brasília em vez de competir no mercado.

Esse fenômeno é o oposto da livre iniciativa. A concorrência é deslocada do setor produtivo para o setor político. Empresas passam a investir mais em lobby do que em inovação. O resultado é uma economia cartelizada, lenta e improdutiva — protegida da concorrência e alheia ao consumidor.

O custo de oportunidade: o que poderíamos fazer com esse dinheiro?

Todo gasto público tem um custo de oportunidade. Os R$ 1,5 bilhão usados para subsidiar carros poderiam ser usados para reduzir impostos sobre combustíveis, desonerar a folha de pagamentos, aliviar o custo do transporte coletivo ou mesmo amortizar a dívida pública.

Mais do que isso: poderiam simplesmente não ser gastos. O Estado brasileiro já arrecada mais de 33% do PIB em impostos — e retorna pouco em serviços. Diminuir o peso do Estado é, por si só, uma forma de melhorar a economia.

A lógica do subsídio é baseada em um erro fundamental: o de que o Estado pode “criar riqueza” redistribuindo dinheiro. Mas o Estado só pode gastar o que tira de alguém. No fim, o que há não é redistribuição, mas transferência de renda da base para o topo, do pagador de imposto para o protegido político.

Conclusão: a “ajuda” que empobrece

A cada ciclo de subsídios, o governo posa como benfeitor enquanto o contribuinte paga a conta — com inflação, impostos e endividamento. O Brasil não precisa de novos pacotes. Precisa de liberdade econômica, concorrência real e respeito ao dinheiro do cidadão.

A política de favores não cria riqueza. Apenas mascara ineficiências, protege setores privilegiados e aprofunda a desigualdade econômica — não entre ricos e pobres, mas entre os conectados ao poder e os que pagam por ele.

É hora de romper com a lógica extrativista que vê o Estado como motor da economia. O verdadeiro motor está nas trocas livres, na inovação espontânea, na responsabilidade individual — e na coragem de dizer: não precisamos do governo para prosperar. Precisamos apenas que ele nos deixe em paz.

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Referências:

  • Folha de S.Paulo. Governo relança programa de incentivo a montadoras com valor de R$ 1,5 bilhão. Junho/2023.
  • Valor Investe. Dívida pública chega a 75% do PIB em 2024. Março/2024.

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