Na economia real, cliente é quem paga e exige valor. No setor público, cliente é quem assina o convênio — com o dinheiro dos outros.
Em qualquer empresa, a sobrevivência depende de agradar o cliente. É ele quem decide se o serviço vale o preço, se o produto é útil, se o atendimento convence. No Estado, tudo funciona ao contrário: as estruturas públicas vendem serviços umas para as outras — usando recursos públicos — e chamam isso de parceria institucional.
Universidades contratando fundações que são geridas por seus próprios ex-professores. Prefeituras terceirizando para ONGs comandadas por ex-secretários. Ministérios firmando “convênios” com estatais que já operam no vermelho. O nome disso é circuito fechado de poder, onde o controle é formal e o resultado raramente interessa.
O dinheiro gira, mas não sai do sistema
Essas operações são legalmente permitidas e tecnicamente impecáveis — cheias de pareceres, rubricas e termos de referência. Mas seu efeito prático é outro: criam uma ilusão de mercado dentro da máquina estatal, onde todos ganham… menos o cidadão.
É como se o Estado operasse uma economia interna, com contratos entre suas partes — mas pagos por quem está fora dela.
Essa “economia estatal paralela” faz com que:
- Recursos saiam do Tesouro, passem por entidades públicas e retornem para outras estruturas estatais, sem concorrência real
- A mesma elite burocrática atue em diversos lados dos acordos
- E os contratos não tenham a menor preocupação com custo-benefício, porque o risco é sempre coletivo — e o lucro, sempre concentrado
Quando não há cliente de verdade, não há cobrança de resultado
Essa lógica não se sustenta no setor privado porque ali o cliente pode ir embora. No setor público, o cliente é cativo — ou melhor, inexistente. E enquanto isso, a retórica de “gestão eficiente” cobre a falta de transparência com relatórios e siglas.
O Estado que contrata o próprio Estado não está prestando contas — está apenas mantendo vivo o seu ecossistema.