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O retorno do dirigismo comercial: desglobalização ou reestatização? | Série DESGLOBALIZAÇÃO – Parte 1

Contêiner enferrujado em terminal portuário vazio, simbolizando o declínio do comércio global e o avanço da intervenção estatal

O comércio internacional está mudando — e não por razões naturais. A chamada “desglobalização” tem sido alardeada por governos, analistas e até investidores como um “caminho inevitável”, uma resposta lógica às crises recentes. Mas há algo mais profundo acontecendo. Estamos presenciando não apenas o recuo do comércio global — mas o avanço do Estado sobre as trocas voluntárias.

O nome certo para isso não é desglobalização. É reestatização.

A globalização como ordem espontânea

A verdadeira globalização não foi uma política de governo. Ela surgiu da lógica natural do mercado: especialização, divisão do trabalho, ganhos de escala e acesso a novos consumidores. Ao longo do século XX, a expansão do comércio foi resultado de uma ordem espontânea — não de planejamentos centrais.

Como bem ensinava Friedrich Hayek, “os processos sociais mais eficientes não são aqueles construídos, mas aqueles que emergem da liberdade”. O mercado global foi exatamente isso: uma evolução, não uma engenharia.

A desculpa perfeita: crise, pandemia e segurança

Nos últimos anos, os Estados se aproveitaram do medo e da incerteza para justificar o que sempre quiseram: poder sobre o fluxo de bens, capitais e informação.

O discurso da “segurança nacional”, “soberania alimentar”, “resiliência produtiva” — tudo isso soa bonito, mas esconde uma realidade simples: os governos querem escolher quem pode vender o quê, para quem, e em quais condições.

Esse não é um movimento novo. É um velho instinto intervencionista vestido com roupas modernas.

Quem perde com isso? Todo mundo. Mas principalmente os mais pobres.

A reestatização do comércio não encarece apenas os produtos — ela enfraquece a concorrência, destrói inovações e cria mercados protegidos por privilégios. O consumidor perde. O empreendedor perde. A economia se torna menos dinâmica, mais cartelizada.

E como sempre alertou Frédéric Bastiat, “a diferença entre um mau economista e um bom economista é que o primeiro se prende ao que se vê; o segundo considera também o que não se vê.”
O que não se vê nas barreiras comerciais de hoje são:

  • Os negócios que não surgirão
  • Os empregos que não serão criados
  • Os preços que não cairão

Desglobalização ou regressão institucional?

O que estamos vivendo é a regressão à política industrial do século XX, agora disfarçada de “reindustrialização soberana”. É o retorno do Estado como ator central no comércio — como definidor, cobrador e beneficiário direto das trocas.

Não é por acaso que os mesmos que criticavam o “capitalismo global” agora celebram tarifas, subsídios e sanções. É o velho dirigismo voltando com nova embalagem.


Conclusão

A desglobalização, quando imposta de cima para baixo, não é resposta às crises — é a causa da próxima.
Se quisermos proteger a liberdade econômica, precisamos defender o comércio como ele sempre foi: uma relação entre indivíduos livres, não entre burocracias nacionais.

O que está em jogo não é apenas eficiência — é liberdade.

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