Vivemos sob um paradoxo: o Estado diz proteger os mais pobres, mas são exatamente os mais pobres os que mais sofrem com sua proteção. Quanto mais ele promete cuidado, mais ele exige controle. Quanto mais fala em justiça social, mais impõe burocracia, taxação e dependência. E tudo isso vem travestido de benevolência institucional.
A opressão fiscal moderna não usa mais farda — usa boletos, aplicativos e regulamentações. O pequeno comerciante, o trabalhador autônomo, o microempreendedor: todos são obrigados a navegar um oceano de tributos, declarações, cadastros, autenticações e códigos. E quando não conseguem acompanhar, viram inadimplentes, sonegadores ou “invisíveis”.
O peso do Estado não se abate com a mesma força sobre todos. Grandes conglomerados possuem departamentos jurídicos e contábeis capazes de explorar brechas e “incentivos”. Já o cidadão comum carrega nas costas a complexidade do sistema tributário mais hostil do planeta. O Brasil não arrecada para redistribuir: arrecada para manter sua própria máquina insaciável.
E como isso é justificado? Com o velho discurso da proteção.
O governo diz que precisa de mais recursos para oferecer saúde, educação e segurança. Mas quanto mais arrecada, mais ineficiente se torna. O problema não é falta de receita — é excesso de ambição. A máquina pública cresce, o funcionalismo cresce, os benefícios políticos crescem… e o cidadão encolhe.
É uma inversão perversa de valores: o Estado deveria servir ao indivíduo, mas exige que o indivíduo se sacrifique por ele. Não há liberdade onde tudo é autorizado, tributado, monitorado. E não há justiça onde a punição recai com força sobre os que produzem, enquanto os que consomem recursos públicos em excesso seguem blindados.
A retórica da proteção tornou-se uma cortina de fumaça. Por trás dela, se esconde o verdadeiro projeto: manter a população dependente, desinformada e ocupada demais para resistir. Um povo exausto não protesta — apenas sobrevive.
Está na hora de dizer o óbvio com coragem: o Estado não protege — ele sufoca.
E a maior forma de violência institucional é aquela que se esconde sob o nome de “justiça fiscal”.