Em meio à agenda institucional da Presidência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou vídeos de apoio às campanhas de Eduardo Paes (RJ) e Guilherme Boulos (SP). Os atos são legais — mas revelam mais uma faceta de um problema estrutural: o uso do aparato estatal como extensão de estratégias partidárias.
Esse comportamento não é exclusividade do atual governo. Mas a recorrência com que o Estado brasileiro serve a propósitos eleitorais levanta uma questão incômoda: quem controla o poder quando o poder controla tudo?
O Leviatã eleitoral
A máquina pública no Brasil é gigantesca — e, como tal, oferece uma vantagem desproporcional a quem a comanda. Cargos, orçamentos, nomeações e propaganda institucional muitas vezes se confundem com campanha política, principalmente em anos eleitorais.
A linha entre o que é público e o que é partidário torna-se tênue. E o custo recai sobre o contribuinte, que financia não apenas a estrutura do Estado, mas também, indiretamente, os projetos de reeleição de seus gestores.
A teoria das escolhas públicas
Para a Escola da Public Choice (ou teoria da escolha pública), formulada por James Buchanan, o político age com incentivos pessoais — não como guardião do bem comum, mas como um agente que responde a estímulos. O Estado, então, torna-se palco de trocas, favores e alianças voltadas à perpetuação no poder.
Quando o presidente grava vídeos eleitorais enquanto exerce funções institucionais, o que se observa não é apenas engajamento político — é a evidência de que o Estado brasileiro foi capturado por lógicas partidárias.
Representatividade ou aparelhamento?
A justificativa usual é a “defesa do projeto político”. Mas quando esse projeto controla ministérios, bancos públicos, agências reguladoras e comunicação oficial, estamos diante de uma distorção: a transformação do Estado em máquina de manutenção de poder, e não de representação plural.
Conclusão
O Brasil precisa decidir se continuará aceitando o uso eleitoral do Estado como algo natural — ou se buscará mecanismos de contenção institucional. Porque quando o governo se confunde com partido, a democracia se torna fachada — e o Estado, uma engrenagem eleitoral permanente.