Em tempos de crise, é comum ver o Estado propor “medidas de auxílio”, “pacotes emergenciais” e “incentivos fiscais” — todos apresentados como favores temporários, quando na verdade são apenas disfarces para uma pilhagem contínua. O verdadeiro roubo, no entanto, não se dá nas manchetes. Ele ocorre silenciosamente, no cotidiano, nas gôndolas do mercado, no litro do combustível, no pão da padaria.
Esse roubo se chama inflação.
Ao contrário do que dizem os manuais intervencionistas, a inflação não é causada pela ganância do comerciante ou pela instabilidade internacional. Ela nasce, em essência, da expansão artificial da base monetária — ou seja, da emissão de dinheiro sem lastro, promovida por bancos centrais a serviço de governos que gastam mais do que arrecadam. É o imposto invisível: ninguém o votou, ninguém o debateu, mas todos o pagam.
Quando o Estado imprime moeda, ele cria uma ilusão de riqueza. No curto prazo, parece haver mais dinheiro circulando. Mas como a produção de bens não acompanha essa expansão, o resultado inevitável é a desvalorização da moeda. Em termos simples: os preços sobem não porque os produtos ficaram melhores ou mais escassos, mas porque o dinheiro vale menos.
É exatamente aí que reside o roubo. Os primeiros a receberem esse dinheiro novo — geralmente o próprio governo, grandes empresas ou bancos — ainda conseguem comprá-lo a preços antigos. Já os últimos da cadeia, especialmente o trabalhador comum, sentem o impacto dos aumentos sem ver um centavo a mais no bolso. O poder de compra se esvai, e a sensação de empobrecimento se instala como se fosse um fenômeno natural.
Mas não é.
A inflação é uma escolha política. É o método predileto do Estado para manter suas estruturas inchadas sem precisar cortar gastos ou enfrentar a impopularidade de aumentar impostos de forma direta. Trata-se de uma fraude institucionalizada, onde os governantes vivem do presente enquanto hipotecam o futuro da população.
E o mais perverso: a inflação atinge com mais força os mais pobres. São eles que não conseguem se proteger com aplicações financeiras, investimentos em ativos reais ou moedas fortes. São eles que vivem com renda fixa e precisam readequar o orçamento mês a mês. São eles que trocam carne por ovo, padaria por farinha, escola particular por fila de espera.
Dizer que “a inflação está sob controle” porque o índice oficial caiu de 6% para 4% é zombar da inteligência da população. A inflação real é aquela sentida na feira, no mercado, no aluguel. E, nesse sentido, o Brasil (e o mundo) vive uma inflação moral: uma aceitação passiva do roubo contínuo como se fosse parte inevitável da vida em sociedade.
Não é.
A inflação é uma política deliberada.
E como toda política, pode — e deve — ser combatida.