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Inflação abaixo do esperado: alívio real ou miragem estatística?

Ilustração mostra gráfico de inflação em queda sobre fundo de crise econômica

A previsão da inflação para 2025 foi revisada para baixo, com projeções agora indicando 5,55%, segundo o UOL Economia. À primeira vista, essa redução parece sinalizar uma trégua no avanço dos preços. Mas o número, isoladamente, esconde mais do que revela. Estamos diante de um alívio real ou apenas de uma miragem estatística?

A resposta exige ir além do boletim Focus e analisar os fundamentos econômicos. A inflação no Brasil não é apenas um fenômeno conjuntural: é um sintoma crônico de um Estado que gasta demais, tributa mal e interfere constantemente na dinâmica produtiva. Mesmo com a revisão da estimativa, a inflação segue acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, o que indica que o problema está longe de ser resolvido.


A maquiagem das projeções

Reduzir a previsão de inflação não significa necessariamente que os preços estão sob controle. A nova estimativa decorre, em parte, da contenção artificial do consumo interno, provocada por juros altos, crédito caro e renda estagnada. Quando a população consome menos, os preços não sobem — mas isso não é virtude de política monetária eficaz: é consequência de uma economia travada.

Além disso, índices como o IPCA são compostos por médias ponderadas. Enquanto alguns itens caem (como eletrodomésticos ou combustíveis), outros sobem agressivamente, como alimentos, energia ou planos de saúde. O brasileiro comum não vive de médias: vive da realidade do supermercado, da conta de luz e da farmácia.


Inflação é política, não só estatística

Como mostramos em “O novo imposto invisível”, a inflação opera como um mecanismo indireto de arrecadação estatal. Ao emitir moeda para cobrir déficits e manter privilégios, o governo transfere o custo da irresponsabilidade fiscal para a população, corroendo salários e distorcendo preços.

A expectativa de inflação mais baixa pode agradar aos mercados, mas não resolve o problema estrutural: o Brasil continua refém de um modelo em que o Estado consome mais do que entrega. E isso contamina toda a dinâmica econômica.


A confiança é o verdadeiro termômetro

Segundo o Valor Investe, as projeções seguem acima do centro da meta e o Banco Central atua sob pressão política, o que reduz sua autonomia e eficácia. Sem credibilidade institucional, qualquer melhora nas estatísticas tende a ser encarada com ceticismo.

Como discutimos em “A falsa neutralidade da moeda estatal”, a moeda perdeu sua função de reserva de valor quando subordinada a interesses políticos. A previsibilidade e a estabilidade exigem mais do que relatórios técnicos: exigem responsabilidade fiscal e compromisso com a liberdade econômica.


Conclusão

Uma inflação menor pode parecer uma boa notícia — mas quando esse resultado vem acompanhado de recessão, juros altos e controle estatal excessivo, o alívio é ilusório. É como comemorar a febre mais baixa em um paciente sedado: o sintoma desapareceu, mas a doença continua.

O Brasil precisa de uma reforma profunda: menos intervenção, mais confiança. E isso não se conquista com estatísticas otimistas, mas com mudanças reais na condução da política econômica.

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