O Brasil parece ter aceitado o déficit como parte da paisagem política. Mas viver eternamente no vermelho não é sinal de maturidade fiscal — é confissão de falência moral.
Neste post, vamos analisar como o déficit fiscal se tornou um vício político, um instrumento de perpetuação do poder e uma bomba-relógio silenciosa que ameaça a liberdade e o futuro econômico do país.
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O déficit como política de Estado
Nos manuais de economia, o déficit público — quando o governo gasta mais do que arrecada — é tratado como algo excepcional, uma resposta pontual a choques temporários, como guerras, pandemias ou catástrofes. No Brasil, porém, ele se tornou uma prática permanente.
Ano após ano, governo após governo, administrações de todos os espectros ideológicos aceitam o déficit como normal. Corrigem a contabilidade com truques, criam fundos paralelos, empurram pagamentos futuros para comprar vitórias políticas imediatas.
O resultado? Um país em que a irresponsabilidade fiscal é institucionalizada, e a punição pela má gestão é transferida para as próximas gerações.
Por que o déficit é tão conveniente para os governantes
Governar com déficit é politicamente confortável:
- Permite aumentar gastos sem o custo impopular de aumentar impostos imediatamente.
- Viabiliza programas e obras eleitoreiras, muitas vezes financiadas por dívida pública invisível para o eleitor médio.
- Alimenta setores dependentes do Estado — empresas, sindicatos, corporações burocráticas — que, em troca, garantem apoio político.
É um ciclo vicioso: o governo cria dependência em nome da inclusão social ou do desenvolvimento, e depois usa essa dependência para justificar mais Estado, mais gastos e mais déficit.
O déficit se transforma, assim, em instrumento de poder, não de necessidade.
O custo invisível: inflação, juros e crescimento atrofiado
O brasileiro comum não sente o déficit na linguagem técnica do Tesouro Nacional. Ele sente no supermercado, na hora de financiar um carro, no salário corroído pela inflação.
Quando o governo gasta mais do que arrecada:
- Aumenta a dívida pública.
- Pressiona os juros para cima.
- Degrada a confiança na moeda.
- Reduz o espaço para o crédito privado.
- Drena recursos que poderiam financiar inovação, produtividade e crescimento sustentável.
Déficit é imposto adiado. E como todo imposto, ele recai mais pesadamente sobre quem não tem acesso a privilégios: o trabalhador comum, o pequeno empreendedor, o jovem que ainda não encontrou emprego.
A desculpa eterna da “necessidade social”
Os defensores do déficit crônico sempre apelam para o argumento emocional: “não se pode cortar gastos em tempos de crise”, “é necessário investir em programas sociais”, “não há alternativa”.
Essa retórica ignora que:
- Muitos programas sociais são mal geridos, com índices vergonhosos de desperdício e fraudes.
- Investimentos mal feitos aumentam o endividamento sem gerar retorno econômico.
- Cortar privilégios, mordomias e subsídios cruzados poderia abrir espaço fiscal sem sacrificar políticas essenciais.
Mas mexer nesses pontos exige coragem política — algo escasso em ambientes onde o curto-prazismo é a regra.
Países que enfrentaram o déficit e venceram
O déficit não é um destino inevitável. Países como Irlanda, Estônia, Chile e até mesmo a Alemanha pós-reunificação passaram por períodos de ajuste fiscal profundo — e colhem hoje os frutos em forma de crescimento, credibilidade internacional e estabilidade monetária.
Esses países entenderam que:
- Gastar com responsabilidade não é “neoliberalismo cruel” — é proteger o futuro.
- Crescimento sustentável exige base fiscal sólida.
- Austeridade não é cortar serviços básicos — é cortar desperdício e reequipar o Estado para servir melhor.
O Brasil também poderia trilhar esse caminho. Mas, para isso, precisaria romper o pacto tácito que transforma o Tesouro em caixa eletrônico de grupos de interesse.
Enquanto isso, o povo paga a conta
O discurso da “necessidade social” esconde a realidade dura: o povo paga duas vezes.
Primeiro, paga com impostos — diretos e indiretos, visíveis e ocultos. Depois, paga com a deterioração dos serviços públicos, a inflação disfarçada de crescimento, e as oportunidades perdidas de prosperidade real.
O déficit não é apenas um problema fiscal. É um problema ético. É a institucionalização da covardia política, a admissão de que governar no curto prazo é mais importante do que construir um país para o longo prazo.
Conclusão: Ou enfrentamos a cultura do déficit, ou ela nos engolirá
Cada ano de déficit crônico é um tijolo no muro que separa o Brasil da sua verdadeira potência econômica.
Cada justificativa emocional é um empurrão para o abismo da estagnação.
A responsabilidade fiscal não é inimiga da justiça social — é seu pré-requisito.
Sem contas públicas equilibradas, não há liberdade, não há crescimento, não há dignidade possível.
O Estado que nunca aprende também é o Estado que nunca evolui.