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“Dia da Libertação”: o novo protecionismo americano e seus impactos no Brasil

Bandeira do Brasile USa, ao lado de um martelo de justiça

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um pacote tarifário de grandes proporções, batizado de “Liberation Day” (“Dia da Libertação”), que marca uma ruptura clara com os princípios do comércio multilateral. A proposta institui tarifas recíprocas: se um país cobra 15% de imposto sobre um produto americano, os EUA aplicarão os mesmos 15% sobre o produto equivalente vindo desse país.

A medida é um afastamento da lógica da Organização Mundial do Comércio (OMC), que busca garantir tratamento igualitário entre as nações, e inaugura um cenário de incerteza e instabilidade global.


O que está em jogo

Com o novo pacote, os EUA passarão a adotar uma postura reativa em relação a parceiros comerciais. A lista de possíveis alvos inclui economias como China, União Europeia, México, Japão, Coreia do Sul e o Brasil — todos considerados como países que impõem barreiras “injustas” aos produtos americanos.

Especialistas apontam que o plano também mira barreiras não tarifárias, como exigências sanitárias ou técnicas, além de buscar corrigir “superávits comerciais excessivos” e práticas que desvantajam empresas americanas.


Impactos para o Brasil

No curto prazo, o comércio direto entre Brasil e EUA pode não ser o mais afetado. Setores como aço, petróleo e aeronaves — principais frentes de exportação brasileira — ainda não estão na linha de frente das sanções.

Contudo, o risco financeiro e cambial é significativo. O aumento das tarifas pode pressionar a inflação nos EUA, forçando o Federal Reserve (Fed) a manter juros elevados por mais tempo. Isso encarece o crédito global, valoriza o dólar e aumenta os custos de financiamento para países emergentes como o Brasil.


Cenários possíveis

Estudos recentes indicam três cenários para o Brasil:

  • Reciprocidade simples: EUA igualam as tarifas médias brasileiras (hoje em 11,3%) → perda de até US$ 2 bilhões em exportações.
  • Tarifa de 25% sobre produtos brasileiros → perda de US$ 6,5 bilhões, com impacto de 0,25 p.p. na inflação.
  • Retaliação brasileira com tarifa de 25% sobre produtos dos EUA → redução nas importações em US$ 4,5 bilhões e alta de 0,3 p.p. no IPCA.

Um ambiente mais hostil ao livre comércio

Essa política tarifária também coloca em risco US$ 9,5 trilhões em comércio global, segundo estimativas. A desconfiança nos mercados aumentou: ações americanas tiveram o pior trimestre desde 2023, enquanto o ouro renovou máximas históricas, e o dólar perdeu força.

O temor de recessão global ganhou fôlego. Para o Brasil, o ambiente internacional tende a ser mais volátil, com menor demanda externa, crédito mais caro, pressão inflacionária e desvalorização do real.


Conclusão

O “Dia da Libertação” sinaliza mais do que uma política comercial. Trata-se de uma declaração geopolítica, com efeitos que vão muito além das tarifas em si. O Brasil, mesmo não sendo o alvo principal, deve redobrar a atenção — tanto no campo diplomático quanto nas estratégias econômicas para mitigar os impactos financeiros desse novo paradigma.

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