Boa parte dos debates sobre comércio internacional ainda parte de uma falsa premissa: a de que nações negociam entre si como se fossem entidades conscientes, com vontade própria. Fala-se em “interesse nacional”, “balança comercial” e “negociações entre países” como se fosse legítimo um governo decidir o que seus cidadãos podem ou não comprar, vender ou trocar.
Mas para o pensamento libertário — e para os liberais clássicos mais consistentes — essa narrativa é não apenas equivocada, mas perigosa. Porque legitima a ideia de que o comércio é uma questão de Estado, quando ele deveria ser uma questão de indivíduos livres interagindo voluntariamente.
Pessoas trocam, governos atrapalham
O comércio surge do impulso natural de especialização e cooperação. Como dizia Ludwig von Mises, “o mercado é um processo social”. Não são os países que fazem negócios — são pessoas, empresas, famílias, consumidores e produtores.
Ao transformar o comércio em uma função estatal, o governo assume o papel de intermediador forçado: cria tarifas, exige licenças, impõe proibições, distribui subsídios. E com isso destrói justamente aquilo que deveria proteger — a liberdade de empreender e trocar.
A fronteira política não define a liberdade econômica
Por que um brasileiro deveria depender da autorização do governo para comprar um livro da Inglaterra? Ou um agricultor argentino para vender café ao Japão? O comércio livre, para ser realmente livre, não pode parar na fronteira. A soberania do indivíduo deve se sobrepor à do Estado.
Como apontava Murray Rothbard, “não existe tal coisa como o ‘interesse nacional’ — existem apenas interesses individuais, que devem ser protegidos do poder coercitivo do Estado.”
Comércio é paz. Estado é coerção.
A essência do comércio voluntário é a troca pacífica de valor. A essência do Estado é a imposição de regras sob ameaça de punição. Ao colocar o comércio sob controle estatal, o que fazemos é transformar uma dinâmica naturalmente cooperativa em uma relação de poder.
E é por isso que o discurso atual sobre “regulação do comércio internacional” deve ser visto com desconfiança. O que está em jogo não é apenas eficiência econômica — é o direito das pessoas de se relacionarem livremente com o mundo.
Conclusão
Comércio livre não é um privilégio concedido por acordos governamentais — é um direito natural dos indivíduos. E defendê-lo é mais do que uma política: é um princípio.