Com o enfraquecimento dos marcos multilaterais, como a OMC, o mundo vem assistindo a uma explosão de acordos bilaterais de comércio. Para muitos, essa nova tendência representa uma alternativa mais “ágil” e “eficaz” ao multilateralismo travado pela política.
Mas para quem enxerga o comércio como uma expressão de liberdade — e não como uma barganha entre governos — essa mudança não é necessariamente um avanço. Pelo contrário: o bilateralismo pode ser a nova face do dirigismo comercial, com menos regras universais e mais privilégio institucionalizado.
Quando a política substitui o mercado
Os acordos bilaterais não acontecem entre pessoas — mas entre Estados. Isso significa que, em vez de um ambiente com regras gerais para todos, como o livre mercado idealiza, temos um cenário onde governos escolhem parceiros, impõem condições, definem preferências.
É como trocar um campo de livre concorrência por um clube fechado onde só entra quem o Estado convidar — e segundo os termos que ele determinar.
Mais poder para o Estado, menos liberdade para o indivíduo
A lógica do bilateralismo favorece países com maior poder de barganha, e tende a consolidar assimetrias. Pequenas nações ou economias em desenvolvimento ficam mais expostas a pressões políticas, exigências extracomerciais e manipulações institucionais.
A Escola da Escolha Pública (Public Choice), de James Buchanan, já alertava: quando os interesses políticos controlam os incentivos econômicos, o resultado é sempre distorcido.
Os acordos deixam de ser instrumentos de abertura e passam a ser instrumentos de controle estratégico, direcionados por Estados — não por empreendedores, consumidores ou investidores.
O engano da “soberania negociada”
Defensores do bilateralismo afirmam que ele preserva a “soberania nacional”. Mas o que é soberania senão o direito de indivíduos trocarem livremente?
Quando dois governos definem, por meio de cláusulas políticas e barreiras ocultas, quem pode importar, exportar ou investir, estamos mais próximos de uma economia dirigida do que de uma sociedade livre.
Como diria Frédéric Bastiat, “a troca é um ato de liberdade; impedi-la é um ato de dominação.”
Conclusão
O bilateralismo pode parecer eficiente — mas é apenas uma versão refinada do velho protecionismo. O livre mercado não depende da diplomacia dos Estados, mas da liberdade das pessoas. A verdadeira integração global só será possível quando o comércio for visto não como política externa, mas como uma relação voluntária entre indivíduos livres.
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