O alerta veio da Organização Mundial do Comércio: as disputas comerciais entre Estados Unidos e China podem reduzir em até 80% o volume de trocas entre as duas maiores economias do mundo. É uma projeção alarmante — não apenas pelos números, mas pelo simbolismo. Estaríamos assistindo ao fim de uma era de interdependência econômica e ao início de um novo ciclo de isolamento estratégico?
Da globalização ao nacionalismo comercial
A promessa do século XXI era de mercados integrados, cadeias globais eficientes e acesso ampliado a bens e capitais. Mas, em meio a uma onda de desconfiança, protecionismo e tensões geopolíticas, essa lógica está sendo revertida. Os Estados, uma vez defensores da abertura, tornam-se agora seus maiores sabotadores.
A China, com sua política industrial centralizada, e os EUA, com tarifas cada vez mais amplas e arbitrárias, lideram o movimento de desglobalização. O discurso de “soberania econômica” ganha força — mas o que se perde é a capacidade de cooperação e prosperidade compartilhada.
As consequências são globais — inclusive para o Brasil
O enfraquecimento das trocas entre EUA e China não afeta apenas eles. Afeta toda a arquitetura do comércio internacional, encarece produtos, rompe cadeias de fornecimento e cria gargalos em setores que dependem de escala global — como tecnologia, alimentos e energia.
Para países como o Brasil, que oscilam entre o protecionismo defensivo e a abertura tímida, a pior escolha seria ficar em cima do muro. Num mundo que se fragmenta, quem não escolhe um modelo claro se torna irrelevante.
Intervenção estatal e a ilusão do controle
Como alertava Hayek, “o planejamento centralizado não elimina a incerteza — ele apenas a transfere para as mãos de quem não pode prevê-la”. A tentativa dos governos de controlar o comércio por meio de tarifas e barreiras é uma resposta emocional, não racional. E o custo recai, sempre, sobre o cidadão comum: mais caro, mais instável, menos livre.
Conclusão
A previsão da OMC é mais do que um dado — é um sinal de que o mundo caminha para uma ruptura estrutural na forma como produz, consome e coopera. A pergunta que fica é: o Brasil será passageiro ou protagonista desse novo capítulo?