Home / Análise Econômica / A Desigualdade Fabricada: Como o Estado Cria os Ricos de Verdade

A Desigualdade Fabricada: Como o Estado Cria os Ricos de Verdade

Ilustração crítica mostrando um homem engravatado suspenso por cordas acima de uma multidão que tenta escalar uma escada quebrada diante de instituições estatais

O Estado é a grande ficção pela qual todos tentam viver à custa de todos.
— Frédéric Bastiat

A desigualdade social é usada como justificativa para a ampliação do controle estatal. A retórica é conhecida: sem intervenção do governo, os ricos ficariam ainda mais ricos, e os pobres, cada vez mais explorados. Esse discurso, que há décadas estrutura políticas públicas e programas de redistribuição, parte de uma premissa conveniente — mas profundamente equivocada. O que ele ignora, ou esconde, é que o Estado não apenas tolera desigualdades, como é o principal agente que as produz e sustenta.

Não estamos falando aqui da desigualdade natural entre talentos, esforços e escolhas. O que está em jogo é uma desigualdade fabricada artificialmente por leis, subsídios, monopólios legais e vínculos com o poder. Uma desigualdade estruturalmente protegida, que transforma burocratas em aristocratas e empresários estatais em herdeiros de castas improdutivas. O problema não é o mercado. O problema é quando o mercado é capturado.

Riqueza por mérito versus riqueza por privilégio

É essencial distinguir dois tipos de riqueza:

  • A primeira é gerada pela via do mérito: por trabalho, inovação, criatividade, poupança e trocas voluntárias. É a riqueza que emerge da liberdade econômica e da competição. Ela não apenas é legítima, como benéfica para todos, pois nasce de soluções eficientes que melhoram a vida das pessoas.
  • A segunda é a riqueza por privilégio estatal: obtida por meio de contratos públicos, monopólios concedidos, regulações que impedem concorrência, isenções fiscais dirigidas e financiamento público. Essa é a riqueza antimeritocrática, sustentada por coerção e imposta ao pagador de impostos.

A narrativa dominante mistura as duas para justificar a intervenção. Mas o verdadeiro motor da desigualdade não é o livre mercado — é a simbiose entre grupos de interesse e poder estatal.

A elite estatal e o empresário cativo

O Brasil oferece um campo fértil para observar esse processo. O chamado “capitalismo de laços” é a versão tropical da oligarquia disfarçada de mercado. O caso das empreiteiras que enriqueceram com contratos públicos bilionários não é exceção — é regra. Bancos que lucram com títulos do Tesouro, empresas de tecnologia que vivem de licitações, organizações “sem fins lucrativos” que faturam milhões com convênios.

Não são competidores no mercado — são clientes do governo. O poder público se torna o grande distribuidor de oportunidades, e o mérito é substituído por conexões. É nesse ambiente que o “capitalista de Estado” prospera. Ele não precisa de inovação, precisa de estabilidade institucional para manter sua fatia do orçamento.

O funcionalismo como casta blindada

Uma das formas mais visíveis dessa desigualdade fabricada está nos altos escalões do funcionalismo público. Enquanto a população produtiva enfrenta instabilidade, tributação crescente e dificuldade para poupar, milhares de servidores de elite vivem sob estabilidade jurídica, bônus permanentes, férias prolongadas e aposentadorias integrais.

O artigo A elite fiscal: como funcionários públicos de alto escalão sobrevivem à crise mostra como essa casta permanece intocada em qualquer crise. A desigualdade nesse caso não é só salarial — é de risco. Um servidor concursado de alto nível vive num Brasil diferente: blindado, bem pago, descolado da realidade fiscal do país.

Subsídios seletivos: a distorção institucionalizada

A política de subsídios setoriais é outro motor da desigualdade. Em nome de “desenvolvimento estratégico”, o Estado transfere recursos públicos para empresas específicas, via BNDES, incentivos fiscais ou perdões de dívida. O resultado é uma economia em que o acesso ao orçamento vale mais que a competência empresarial.

Essas práticas desestimulam a concorrência e transformam o mercado em um jogo viciado. Os pequenos, sem acesso ao favor público, competem em desvantagem. E os grandes, protegidos, perdem o estímulo à eficiência. O discurso da “ajuda” ao setor produtivo esconde um sistema de congelamento da mobilidade econômica, onde os vencedores já estão escolhidos.

A estrutura tributária como barreira à ascensão

Não é apenas o privilégio que gera desigualdade — é também o peso. A estrutura tributária brasileira é regressiva, complexa e punitiva. O cidadão comum, o pequeno empreendedor e o trabalhador informal enfrentam uma carga desproporcional de impostos e obrigações burocráticas.

O artigo Tributar para proibir: como os impostos desestimulam a liberdade sem assumir a responsabilidade trata disso com clareza. Muitos não conseguem sequer formalizar um pequeno negócio. A consequência é óbvia: o Estado empurra milhões para a informalidade ao mesmo tempo que fecha o topo da escada econômica para novos concorrentes.

O papel invisível das regulações

Além dos impostos, o excesso de regulações funciona como uma muralha para quem deseja iniciar ou expandir um empreendimento. São exigências técnicas, licenças, registros, normas sanitárias, ambientais, fiscais e trabalhistas que se sobrepõem e inviabilizam o crescimento dos menores.

Grandes empresas têm estrutura para lidar com isso. Pequenas, não. Resultado: a regulação estatal se torna instrumento de concentração de mercado, invertendo a lógica de “proteger o consumidor” para a de eliminar concorrência em nome da burocracia.

O jogo manipulado desde o início

A retórica da desigualdade ignora o ponto principal: o jogo já está manipulado desde o início. O acesso ao crédito, à justiça, à educação de qualidade, ao ambiente empreendedor — tudo isso é moldado por decisões políticas. E essas decisões favorecem sempre os mesmos grupos.

O cidadão comum, que depende de instituições neutras, está em desvantagem. O bem relacionado, por outro lado, está sempre um passo à frente — não por mérito, mas por projeto de poder.

Conclusão: igualdade na liberdade, desigualdade no privilégio

Não existe igualdade verdadeira sob um sistema que premia conexões políticas e penaliza a iniciativa individual. A verdadeira justiça social nasce da liberdade: quando todos podem competir em igualdade de condições, e a riqueza é resultado de mérito, não de favores.

Combater a desigualdade exige, portanto, menos Estado e mais mercado real. Não um mercado capturado, mas um mercado livre, onde as regras sejam claras, os privilégios sejam desfeitos e o sucesso dependa da capacidade de servir ao outro, e não de agradar o governante.

É preciso romper com a farsa de que o Estado é o defensor dos pobres. Na prática, ele tem sido o maior fabricante de desigualdade real e duradoura

Se este conteúdo fez sentido para você, compartilhe. A crítica à desigualdade precisa começar pelo reconhecimento do verdadeiro autor dessa distorção: o Estado.

Assine a newsletter Radar Econômico para receber novas análises e séries exclusivas diretamente em seu e-mail.

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

✖️

📬 Assine o Radar Econômico

Receba análises econômicas críticas direto no seu e-mail.
Sem spam. Só liberdade.

pt_BRPortuguese