O déficit brasileiro não é fruto de necessidade econômica. É fruto de uma decisão política: gastar mais, prometer mais, estatizar mais — enquanto o futuro da população é hipotecado sem cerimônia.
Neste post, vamos examinar como o Brasil atingiu níveis alarmantes de déficit nominal e dívida pública, segundo estudo recente do BTG Pactual, e o que isso revela sobre a incapacidade do Estado brasileiro de se adaptar a uma economia sustentável.
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O Brasil entre os maiores déficits do planeta
De acordo com reportagem publicada pelo G1 em 14 de janeiro de 2025 (link para a matéria), baseada em estudo do BTG Pactual, o Brasil terá, em 2024 e 2025, um dos maiores déficits nominais do mundo.
As projeções são contundentes:
- Déficit nominal de 7,8% do PIB em 2024
- Déficit nominal de 8,6% do PIB em 2025
Entre as principais economias globais — desenvolvidas e emergentes — o Brasil só perde para a Bolívia em descontrole fiscal. Enquanto isso, a dívida bruta projetada deve atingir 86% do PIB até 2026, evidenciando uma trajetória de endividamento crescente.
O estudo alerta: mesmo após o choque pandêmico, a maior parte dos países reduziu seus déficits. O Brasil, porém, trilha o caminho inverso, deteriorando suas contas públicas a um ritmo mais acelerado do que a média dos emergentes e, inclusive, das economias desenvolvidas.
O novo normal: déficit como política de Estado
Historicamente, déficits elevados deveriam ser vistos como exceção — respostas temporárias a crises específicas. No Brasil, contudo, o déficit se converteu em política estrutural.
A estratégia é clara:
- Expandir gastos sociais e investimentos estatais sem reequilibrar a arrecadação real
- Contar com receitas extraordinárias incertas para cumprir metas
- Postergar cortes estruturais em privilégios, subsídios e ineficiências
Segundo o próprio relatório do BTG, o governo atual estima cumprir a meta de déficit primário zero em 2024 — mas com base em R$ 178 bilhões em receitas incertas, incluindo arrecadações não garantidas e medidas de difícil execução política.
Enquanto isso, o crescimento orgânico da dívida pública, associado à percepção de risco elevado, pressiona os juros e torna o ambiente econômico mais instável.
O círculo vicioso fiscal explicado
O endividamento elevado impõe custos imediatos e perversos:
- Risco fiscal elevado → Prêmio de risco maior
- Prêmio de risco maior → Juros mais altos exigidos por investidores
- Juros mais altos → Mais gastos com serviço da dívida
- Mais gastos com dívida → Menos espaço para investimento produtivo
Cada real a mais gasto sem lastro não apenas agrava o problema como o retroalimenta.
O BTG destaca que parte do custo da dívida é impulsionado pela própria política fiscal expansionista, que pressiona a inflação, exige juros básicos (Selic) mais elevados, e eleva o custo de financiamento para o próprio governo.
O falso dilema: crescimento a qualquer preço
A retórica oficial costuma defender que “gastar mais” impulsiona o crescimento. No curto prazo, pode até funcionar — artificialmente. Mas sem bases fiscais sólidas, o crescimento é ilusório, frágil, e pavimenta o caminho para crises mais profundas.
O relatório indica que, mesmo com crescimento acima de 3,5% em 2024, o déficit permanecerá exorbitante, e a dívida seguirá em alta. O que revela que crescer sem disciplina fiscal não resolve — apenas adia o colapso.
O efeito invisível: inflação, desvalorização e empobrecimento
Além do endividamento, o cenário fiscal instável impacta diretamente o bolso da população:
- Pressiona o câmbio (desvalorização do real)
- Torna produtos importados mais caros
- Alimenta a inflação interna
- Eleva o custo de vida
O próprio estudo menciona que o real já atingiu patamares acima de R$ 6 em momentos recentes — e deve continuar pressionado pela percepção de risco.
A elite política pode se proteger. Quem não pode são os trabalhadores, os empreendedores, os pequenos investidores — todos condenados a arcar com a fatura.
Conclusão: o Estado que não corta é o Estado que condena
O diagnóstico do BTG é claro: o Brasil vive uma escalada de endividamento que, embora agravada por fatores globais, é majoritariamente autoinfligida.
O déficit elevado e o crescimento da dívida não são fenômenos inevitáveis. São resultado de escolhas políticas deliberadas: a escolha de não cortar privilégios, a escolha de expandir a máquina estatal, a escolha de sustentar uma estrutura de poder à custa do futuro.
Enquanto o governo insiste em adiar reformas e vender ilusões contábeis, o país se aproxima, ano após ano, de um novo ponto de ruptura.
O déficit nominal é mais do que um número no relatório do BTG — é o retrato de um Estado que se recusa a amadurecer.