Se há algo que todos parecem saber, é que o governo “imprime dinheiro”.
Mas o que isso realmente quer dizer?
A imagem comum é a de máquinas gráficas funcionando a todo vapor no porão do Banco Central, cuspindo cédulas novas para financiar gastos públicos. Mas a verdade é mais sutil — e mais perigosa.
Imprimir dinheiro não é apenas fabricar papel. É criar poder de compra do nada, inflando a base monetária e, muitas vezes, a ilusão de crescimento.
📉 A mecânica da criação monetária
Hoje, a maior parte do dinheiro que circula na economia não existe fisicamente. É apenas um número em tela: depósitos bancários, créditos contábeis, registros digitais.
Menos de 4% da base monetária no Brasil é composta por papel-moeda.
A emissão ocorre de duas formas principais:
- Diretamente pelo Banco Central
- Ao comprar títulos públicos, ele injeta moeda na economia.
- Ao baixar compulsórios, libera liquidez para os bancos.
- Indiretamente pelos bancos comerciais
- Via sistema de reservas fracionárias, bancos criam dinheiro ao conceder crédito, multiplicando o montante original.
Ou seja: o Estado não imprime papel — ele autoriza, legitima e estimula a criação artificial de poder de compra.
💣 Por que isso é um problema?
Porque, como dizia Mises,
“A criação de dinheiro não aumenta a riqueza. Ela apenas redistribui o que já existe.”
Quando o governo ou os bancos criam moeda, não estão criando valor. Estão apenas repartindo o poder de compra existente entre mais unidades monetárias.
O resultado?
- Os primeiros a receber o novo dinheiro ganham com preços ainda baixos.
- Os últimos — trabalhadores, poupadores, aposentados — pagam mais caro sem saber por quê.
Este é o efeito Cantillon, descrito no século XVIII e ignorado por boa parte da política econômica moderna.
📊 O Estado como beneficiário da fraude monetária
Se imprimir dinheiro fosse solução, a Venezuela seria potência.
Mas a emissão serve a outro propósito: financiar o Estado sem recorrer à tributação direta ou à austeridade política.
Ao emitir moeda, o governo:
- Paga dívidas
- Financia déficits
- Sustenta programas populistas
Tudo sem aprovação do Congresso, sem debate público, sem transparência.
Na prática, é o imposto que não passa pelo Parlamento, mas pesa no prato do brasileiro.
🧠 Não há almoço grátis
A crença de que o Estado pode “injetar dinheiro na economia” e gerar prosperidade é uma ilusão econômica — e um crime moral.
Não existe mágica monetária. Existe transferência forçada de riqueza, desorganização dos preços, distorção dos investimentos e destruição da poupança privada.
Rothbard foi direto:
“Imprimir dinheiro é uma forma de falsificação legalizada. Só que quando o governo falsifica, chamam de ‘política monetária’.”
🧭 Conclusão
Imprimir dinheiro não é uma política econômica neutra ou técnica.
É um ato político, ideológico, profundamente injusto.
E o mais grave: é um ato que destrói a confiança no dinheiro como meio de troca — e, portanto, na própria economia de mercado.
É por isso que, ao longo da história, todos os impérios que abusaram da criação de moeda acabaram ruindo.
E é por isso que começamos esta série.
Para expor, sem rodeios, o mito da riqueza criada por decreto — e o preço real que pagamos por acreditar nele.