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Quando o Estado financia, o lucro é certo — para alguns

Aperto de mãos entre empresários, com contrato e maquete de casas sobre a mesa.

Quando o Estado financia, o lucro é certo — para alguns

Na semana em que o governo Lula anunciou a criação da Faixa 4 do programa Minha Casa, Minha Vida, voltada para famílias com renda entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, um nome conhecido do setor imobiliário correu para os holofotes: Rubens Menin, fundador da MRV Engenharia. Em declaração reproduzida com entusiasmo por veículos como o Brasil 247 e a CNN Brasil, Menin elogiou a medida:

“É uma excelente notícia, tanto para a construção civil quanto para as famílias brasileiras.”

Mas como sempre acontece quando o governo “ajuda”, convém perguntar: quem realmente está sendo ajudado?


A fachada social de um negócio garantido

O Minha Casa, Minha Vida é vendido como um programa social, mas na prática, ele representa uma injeção direta de recursos públicos em empresas privadas, com lucros assegurados por contratos, subsídios e garantias governamentais. A MRV, maior construtora da América Latina, foi durante anos a maior beneficiária desse programa.

Segundo reportagem do The Intercept Brasil, em 2018, 77,8% dos lançamentos da MRV estavam dentro do programa habitacional. Não por acaso, a empresa comemorava resultados recordes. O que se vende como “política pública” é, na verdade, uma transferência indireta de riqueza: do pagador de impostos para o lucro corporativo.

Referência:
The Intercept – MRV, a empresa que mais lucra com o Minha Casa Minha Vida


O velho truque do “capitalismo de compadrio”

Do ponto de vista econômico, subsídio é privilégio — não política social. O governo escolhe um setor, injeta dinheiro, facilita crédito, reduz burocracias. Mas isso não cria riqueza. Apenas desloca recursos, criando distorções artificiais de mercado.

Murray Rothbard foi claro:

“Sempre que o governo intervém, ele beneficia uns em detrimento de outros. Isso não é neutralidade. É coerção disfarçada de benevolência.”

O caso do setor imobiliário no Brasil é emblemático. Enquanto milhões de pequenos empreendedores lutam para sobreviver com margens apertadas e impostos sufocantes, gigantes como a MRV recebem tratamento especial, crédito barato, demanda garantida e aplausos da imprensa.


O custo invisível: inflação, distorção e bolhas

Ao subsidiar imóveis, o governo infla artificialmente a demanda. Isso eleva os preços do setor como um todo, reduz a eficiência alocativa do capital e pode gerar bolhas especulativas — como já se viu em países como os EUA, com o colapso de 2008.

O economista Friedrich Hayek alertava que:

“A manipulação da moeda e do crédito por parte do governo inevitavelmente distorce os sinais do mercado, levando a uma má alocação de recursos.”

Ou seja: programas como o Minha Casa, Minha Vida não apenas não resolvem o problema da moradia — eles agravam, ao encarecer o metro quadrado, deslocar investimentos e concentrar mercado.


A aliança do capital com o poder

É curioso como setores que se dizem liberais na economia correm para abraçar o Estado quando há dinheiro em jogo. Rubens Menin não está errado em defender sua empresa — o problema é um sistema que permite (e incentiva) esse tipo de simbiose entre política e negócio.

A criação da Faixa 4 é uma ampliação explícita do intervencionismo. Em vez de corrigir os fundamentos que encarecem a habitação — como a burocracia urbanística, o monopólio fundiário e os altos tributos — o governo escolhe ampliar os subsídios para a classe média.

Enquanto isso, o pagador de impostos, que não consegue crédito, continua bancando a festa.


A mídia aplaude — e a concorrência desaparece

Sites como Brasil 247, CNN e Valor Investe aplaudiram a medida como “inovadora”, “inclusiva” e “estrategicamente correta para aquecer o setor da construção”. Nenhuma linha sobre os custos fiscais, o risco de bolha imobiliária ou o fato de que empresas menores não têm acesso aos mesmos canais de financiamento.

Links para referência:

O discurso é sempre o mesmo: o Estado “movimenta a economia”. Mas na prática, ele só movimenta o capital de uns para o bolso de outros. Com o detalhe de que quem paga a conta não está na foto da assinatura do programa.


Subsídio não é justiça social. É captura estatal.

Como bem alertava Bastiat:

“O Estado é a grande ficção pela qual todos tentam viver às custas de todos os outros.”

O problema não está em Rubens Menin. Está em um modelo que recompensa o corporativismo com dinheiro público, distorce a economia e mata a concorrência legítima.


🧭 Conclusão

Quando empresários elogiam o governo por programas que aumentam seu faturamento com dinheiro do contribuinte, não estamos diante de uma política pública — estamos diante de um pacto não declarado entre poder e privilégio.

O verdadeiro problema da habitação no Brasil não é falta de subsídio. É excesso de governo, má gestão do solo urbano, burocracia cartorial e moeda desvalorizada.

Enquanto isso, seguimos financiando lucros privados com perdas públicas.
E chamando isso de progresso.


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